Como seria de esperar, o logótipo dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 causou um grande impacto na comunidade de designers e gerou as mais diversas reações.
Nós também não ficámos indiferentes e neste artigo revemos algumas das críticas mais comuns e procuramos confrontar com as boas práticas na criação de um logótipo.
Imagem retirada de http://olympics.com
Simbolismo
O logo combina três símbolos: a medalha de ouro, a chama Olímpica e Paralímpica e Marianne, a personificação da República Francesa.
É uma combinação ambiciosa, conceptualmente forte, com vista a representar a excelência, energia e identidade nacional. A execução gráfica é exemplar, no entanto a carga simbólica gera alguns desafios em termos de clareza e simplicidade.
A medalha de ouro e a chama simbolizam de forma eficaz o espírito olímpico, de competição e paixão pelo desporto, partilhado por todos os atletas. A inclusão de Marianne adiciona um toque cultural único, património do povo Francês.
No entanto, Marianne, como personificação que é, não possui uma imagem comum, amplamente reconhecida ou que faça parte da memória colectiva, como por exemplo a torre Eiffel, que alguns críticos sugeriram por ser um símbolo mais comum alusivo ao povo francês.
Efectivamente várias pessoas comentaram não conhecer Marianne e também não terem conseguido identificar a sua presença no logo.
Em termos práticos, a riqueza do simbolismo acrescenta alguma complexidade visual para um reconhecimento rápido, que pode afectar a sua memorabilidade e o impacto imediato do logótipo, aspectos que são normalmente considerados na criação de um logótipo.
By Super sapin. Photo personnelle prise au Sénat. - Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3773544
By Eugène Delacroix - This page from 1st-art-gallery.com, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=38989
Estética geral
Em termos gerais o design é elegante e moderno, apresentando uma abordagem minimalista, com linhas limpas.
A escolha do outro como cor principal confere uma imagem de prestígio, de elegância e valor, sendo visualmente atraente.
O estilo minimalista está alinhado com as tendências do design contemporâneo e contribui para a sua versatilidade em diversos meios.
No entanto a simplicidade do design pode resultar em alguma ambiguidade visual - como a dificuldade em identificar a figura de Marianne, ou a medalha olímpica - dificultando a compreensão imediata dos diferentes símbolos representados.
A sua eficácia depende também do conhecimento prévio dos elementos simbólicos, que podem não ser universalmente reconhecidos.
A máxima "Um logo não tem de ser explicado!" foi frequentemente repetida.
Versatilidade
Para resultar bem em diversos meios e aplicações o logo deve ser versátil, mantendo a sua integridade e reconhecimento nas variadas utilizações.
O design minimalista contribui para este requisito, mas a sua complexidade simbólica poderá comprometê-lo em algumas situações.
Pelas mais diversas aplicações que têm surgido na comunicação (televisiva, online, impressa, …) o logo tem funcionado bem, garantindo o branding em todas as plataformas e canais.
No entanto em tamanhos menores, a suas fraquezas são acentuadas e alguns detalhes simbólicos tornam-se ainda mais difíceis de reconhecer ou identificar e sem o devido entendimento contextual, o simbolismo deste poderá perder-se.
Imagens retiradas de http://olympics.com
Notas finais
O logótipo Olímpico de Paris 2024 apresenta um design com linhas modernas, minimalista, ousado e ambicioso em termos estéticos e simbólicos.
Mesmo que nem sempre toda a sua simbologia seja facilmente identificada ou reconhecível, na generalidade não deixa dúvidas do que representa.
Não nos parece que haja necessidade de "explicar" o logo - na nossa perspectiva o tema é imediatamente reconhecível com o bónus de conter detalhes por descobrir, que acabam por torná-lo ainda mais interessante, especialmente à medida que nos vamos apercebendo deles.